Acordei hoje bem cedinho, puxei a cortina, abri a janela e o passarinho que cantava todos os dias por um motivo desconhecido bateu suas asinhas e foi cantar em outra janela.
Sentei na cama e fiquei de olhos fechados apenas sentindo o vento suave da manhã. Acho que fiquei esperando que o passarinho voltasse, mas ele não voltou.
Quanto silêncio! Será que todos ainda estão dormindo?
A cidade tá silenciosa. Não ouço buzinas. Não ouço o som das crianças brincando na rua. Não consigo ouvir a vizinha apressando o filho pra não chegar atrasada no trabalho.
Mas eu consigo ouvir de longe o tic tac do relógio na parede.
O tempo está passando como sempre passou, mas hoje o silêncio começou a incomodar.
Antes a cidade estava cheia e eu era mais uma na multidão que buscava coisas que o tempo leva e que a traça destrói.
Não sobrava tempo pra olhar pra dentro do meu coração e enxergar o quanto ele se sentia só.
Não sobrava tempo pra mergulhar profundamente em minhas emoções. E foi mergulhando que eu vi o que antes não tive coragem de enxergar e admitir.
Solidão, a própria solidão. A emoção que faz enxergar a multidão de pessoas indo e vindo e nenhuma sendo capaz de preencher as faltas que antes nem sabia que existia.
Solidão bonita é a solidão encontrada na poesia, mas ela é tão feia quando se torna gritante aos nossos ouvidos, quando nos faz chorar ou quando tira o nosso sono.
A solidão é feia quando quem poderia ficar escolhe ir embora ou quando quem poderia escrever uma história bonita ao seu lado não encontra motivos pra escrever.
Não feche a cortina. Deixa o sol entrar. Existe lá fora um mundo de possibilidades incríveis a sua espera capaz de preencher todo e qualquer vazio do seu coração. Mantenha os seus olhos bem abertos.
Obs: O texto não reflete a minha vida e nem o que sinto. O texto é inspirado na vida cotidiana.