Eu e o construtor paramos na frente da casa depois de finalizar a reforma. Ele satisfeito com o trabalho feito e eu completamente empolgado por alcançar o meu objetivo de ver a casa da minha infância completamente restaurada e bonita.
O construtor tira os óculos e continua olhando para a casa.
Vou dizer uma coisa: Quando você me chamou para conhecer a casa eu quase desisti de pegar o serviço. Era muito trabalho para ser feito dentro do tempo que me pediu.
E o que fez você mudar de ideia? – Indaguei
Ele pensou por alguns minutos e as suas palavras me tocaram.
Acho que a sua emoção falando sobre como cada cômodo era, como você e os seus irmãos foram felizes, como você se via morando com a sua própria família na casa que um dia os seus pais moraram. Eu vi amor e saudade nos seus olhos. Daí resolvi aceitar o serviço. – Ele respondeu
Você está certo. Eu sempre me importei com a casa, sempre tive planos pra ela, mas depois da morte trágica dos meus pais e do meu irmão eu simplesmente me afastei e me ausentei. -Respondo
Sempre que eu pego uma empreita para reformar um imóvel velho eu penso no que levou o proprietário a parar de cuidar, de zelar e conservar.
Permaneci em silêncio.
As pessoas são engraçadas. Elas cuidam das coisas por um tempo, por uma vontade, por um objetivo e por uma necessidade. Depois elas param de cuidar e vão dar importância para outras coisas. Já reparou em quantas coisas especiais você parou de cuidar por pensar que já havia conquistado ou já lhe pertencia?
Isso serve para uma casa que era belíssima e por não fazerem reparo começou a desmoronar, mas serve também para os relacionamentos em que um dos envolvidos parou de cortejar, de elogiar, de cuidar, de incentivar e demonstrar o quanto ama e quer bem.
Você está certo. Casas e pessoas são mais parecidas do que eu pensei. Acho, meu amigo, que existe um lado nosso que pensa que tudo vai permanecer do mesmo jeito para sempre, que nada nunca vai mudar, que o outro não vai mudar. Acho que nos acomodamos em algum momento.
Que bom que você decidiu reformar. Ficou linda. Tudo que a casa precisava era de alguém que se importasse com ela outra vez.
Ele dá dois tapas no meu ombro e se afasta. Caminho até a casa, destranco a porta e abro a janela.
Consigo imaginar os filhos que pretendo ter correndo pelo jardim, consigo imaginar o som dos latidos dos cachorros que pretendo ter, consigo imaginar construir uma vida cheia de amor com alguém e ser feliz, afinal de que vale tanto trabalho se no final não existe alguém para compartilhar os bons resultados?